domingo, abril 08, 2007

Inica-se hoje a semana que abre um novo ciclo político....

Guidobaldo:

Inica-se hoje a semana que abre um novo ciclo político para a profissão farmacêutica, as farmácias e os medicamentos. Polémico quanto baste - quantas vezes a decisão está mal ou insuficientemente fundamentada - eivado de ressentimentos políticos, e mesmos de fantasmas, o país vai ter um novo quadro que nasce mal.

Não se identifica uma razão de saúde pública;

Não se diagnosticou correcta e coerentemente a(s) necessidade(s) de mudança de modelo e de paradigma;

Não se adiantaram necessidades objectivas do SNS;

A alternativa é como a pescada: antes de ser já o era;

Os julgamentos em praça pública foram um instrumento de acção política;

A demagogia do argumento prevaleceu sobre a racionalidade das opções;

O aparentemente fácil abriu caminho ao ilusoriamente óbvio.

Houve, por parte dos farmacêuticos enquanto profissão organizada, uma clara incapacidade de antecipação política. Quando em 2004 a OCDE aponta para a desregulação das farmácias e da PROFISSÃO FARMACÊUTICA como um dos instrumentos necessários à prossecução da reforma do sistema português de saúde, nenhuma organização profissional ou entidade regulamentar ou reguladora reagiu ou questionou o que quer que fosse.

Há, por parte dos farmacêuticos enquanto profissão organizada, uma evidente falta de estratégia profissional face às mudanças antecipadas.

Em 2 anos não se investiu o suficiente, e muito menos o necessário, para que a opinião pública alterasse o seu sentido de apreciação e as suas referências sobre as necessidades que a profissão deveria, perante a sociedade, verificar.

Fora da profissão poucos são (profissionais de saúde ou não) que sabem e valorizam o que é, o que se faz, como se faz, para quem e a quem se faz o trabalho numa e de uma farmácia.

A percepção continua a ser, agora com maior acentuação, a de um negócio.

Gestores e administradores em saúde, com formação base diversa e diversificada, olhem a concorrência pelo preço como uma mais valia para os doentes.

Médicos (hospitalares e de família)e Enfermeiros participam activamente numa acalorada discussão sobre os serviços que o Governo propôe à prestação pelas farmácias cuja perspectiva é, para estas, demolidora. É bom que disto haja consciência.

Os actos próprios definidores de cada e das diferentes profissões são confundidos, misturados e baralhados. Sempre com o ónus de que o melhor desempenho se mede pelo volume de vendas.

Espero não desmerecer a vossa melhor atenção e que a discussão prossiga, viva, mas ponderadamente conduzida, aqui, no NÚCLEO DURO.

3 comentários:

JFP disse...

"Money talks... b***s*** walks!"

Vladimiro Jorge Silva disse...

Grande texto, Guidobaldo. Como se diz em futebolês, andamos todos a "correr atrás do prejuízo".
É muito importante que, quando esta onda passar (e acabará por passar), não nos deixemos dormir na forma e desta vez façamos o trabalho de casa, que já deveria estar a ser feito há anos.
Confesso que tenho as minhas reservas em relação aos novos serviços que as farmácias e os farmacêuticos irão prestar: se por um lado têm a vantagem de consagrar as farmácias como espaço de saúde em detrimento de mero posto de vendas, por outro lado com eles vem a concepção subjacente de que os farmacêuticos podem "fazer algumas coisas", desde que "não sejam difíceis". Não é com grande gosto que me vejo a praticar actos de enfermagem de que os próprios enfermeiros já nem sequer gostam muito... mas enfim, veremos o que é que isto dá.
Na minha aldeia, para além da enfermeira do posto médico há duas pessoas que dão injecções: uma senhora que toda a vida foi doméstica e aprendeu a arte quando teve que tomar conta de um familiar doente e um indivíduo que tem uma loja em que vende roupa, mel do gerês, chá de hipericão e pequenos electrodomésticos de proveniência duvidosa. Este último aprendeu "na tropa", tem o seu próprio stock de seringas e cerca de 70% da quota do mercado das injecções lá do sítio.
Vão ser concorrentes ferozes!

JC disse...

Esta situação teve início quando JC (não eu... o "big shot")reagiu de maneira intransegente, musculada e porventura intempestiva, aquando da proposta do governo de então, abrir as famosas farmácias sociais.
O resultado dessa "revolta" das farmácias foi o do ódio vísceral de alguma classe política que á hora certa jurou vingança.
Pois ela aí está.
Talvêz uma estratégia de "low profile", "de toma lá, dá cá" na altura pudesse ter sido mais proveitosa, mas não foi essa a opção tomada.
Desde então a estratégia têm sido outra, a de minimizar o prejuízo. Do mal o menos.
Entre negociatas, politiquices, avanços e recuos,chegámos a um novo ciclo.
Como o Guidobaldo muito bem referiu no seu texto, a estratégia falhou; ou nunca existiu verdadeiramente.
Pois bem, é hora de reunir as hostes e definir o que queremos para o futuro. Com novos players a entrar no mercado, os farmacêuticos e as farmácias não podem continuar a viver na conjuntura dourada dos anos 90.
A diferênciação fará a força.
Neste aspecto, terá fundamental relevância a OF, no papel do seu novo bastonário. O caminho não pode ser só traçado pela visão empresarial da ANf, mas também pela maior e melhor formação técnico-cientifica (pré e pós-graduada) alavancada pela ordem e instituições académicas.
Uma verdadeira e séria integração das farmácias no actual modelo do serviço nacional de saúde suportada pelo acto farmacêutico, pelos serviços complementares e não só pela mera margem de venda do medicamento no acto da dispensa, acrescentaria á farmácia e ao farmacêutico uma verdadeira credibilidade política, profissional e social.
Esta poderá ser uma visão utópica do rumo a tomar, mas concerteza seria uma mais valia indescutível.